O ENCONTRO DO TIO ZÉ COM O TRANCOSO

O que minha avó me contou certa oportunidade, foi que meu tio que vou chamar aqui de tio Zé. Esse meu tio que é irmão de minha mãe, gostava muito de jogatina. Jogava de tudo apostado, desde chimbra, pião, dominó, baralho, gamão e qualquer outro jogo que aparecesse. Numa dessas suas jogadas, ele chegou até a perder a quinzena que recebera de seu trabalho como vigilante da torre da telasa. 

Vó Bia, vivia alertando a ele dessas apostas e do horário que ele chegava em casa. Algumas vezes virava a noite numa pracinha por trás do cemitério da cidade. Mas geralmente seus horários de chegar em casa era umas 02:00h da manhã.


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Dizia minha avó que estava bem fria e uma névoa densa se formava quando estava perto das 21:00h, coisa que não era normal de acontecer. Ela disse que pensou consigo mesma que naquela noite o tinhoso faria uma arte na cidade. Avisou então ao meu tio Zé que não chegasse tarde, pois estava com um mal pressentimento. 

O meu tio por sua vez disse que tirasse essas coisas da cabeça, e que isso só vinha pra quem procurava. 

Infelizmente ele estava muito enganado, aquela noite definitivamente não seria como de costume, e ficaria marcado em sua mente por muito tempo. 

E lá se foi meu tio pela noite em direção a pracinha do cemitério. As horas se passaram como num piscar de olhos, beberam, jogaram e conversaram até lá pelas 02:30h, até que resolveu ir embora. 

Para ir pra casa, ele sempre pegava um caminho mais curto que passava por trás de um ginásio que tem lá até hoje. Quando subia a ladeira percebeu que havia um cachorro grande, mas grande mesmo e que parecia que o seguia. Ele disse uma vez, por muita insistência minha, que até hoje lembra das pisadas marcantes daquele cachorro, e que cada passo que ele ouvia, sentia um frio na espinha, sentia o medo tomando conta de si, até chegar o ponto de as pernas falarem por ele em forma de uma carreira que os pés batiam na bunda. Ao dar início a sua disparada, vez e outra olhava para trás e o cachorro parecia vir a galopes moderados, como se fosse apenas para dar somente um bom susto. 

Para sua sorte, havia um senhorzinho, que no tempo ainda não era tão senhor assim, que morava no final da ladeira do ginásio, que ficava com a parte de cima da porta aberta. Na verdade, não sei ao certo se aquele senhor ficava até tarde com a porta aberta, ou se ele acordava muito cedo e abria a porta. Lembro desse senhorzinho, quando eu era bem pequeno, acho que uns 5 ou 6 anos, que ele tinha uma pequena estátua de porcelana do Belzebu, uma porcelana verde escura já com umas partes quase sem cor, creio que de tanto manusearem, e eu tinha um medo tão grande que me pelava. Voltando ao meu tio, então, para sorte do tio Zé, esse senhor estava com a porta com a parte de cima aberta, e não pensou duas vezes, do jeito que ia correndo pulou de mergulho no meio da sala daquele senhor que levantou de sua cadeira de balanço no pulo já apanhando uma espingarda que tinha. Tio Zé por sua vez, caiu gritando que vinha o bicho. Aquele senhor fechou ligeiro sua porta e ficou espiando pela brecha, e disse que só viu um vulto virando já na esquina. 

Passaram-se alguns minutos, e o senhor vendo que meu tio ainda estava muito nervoso, não o deixou ir embora, pois ainda eram próximos às 04:00h. Disse que ficasse e quando fosse mais tarde um pouco iria levar meu tio em casa e conversar com minha avó. 

Minha avó disse que depois disso meu tio virou um santo, saía de casa para o trabalho e do trabalho para casa, começou a frequentar a missa aos domingos, e quando saía para jogar com os amigos, chegava o mais tardar às 21:00h, que antes era seu horário normal de sair de casa. 

Mas depois de um tempo ele conseguiu superar o episódio e já não vai mais com tanta frequência à missa. 

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